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"Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um chama-se ontem e o outro amanhã, portanto hoje é o dia certo para acreditar, fazer e principalmente viver." Dalai Lama

Thursday, September 22, 2005

Fogo...


"Os meus olhos fixam o teclado, os meus ouvidos enchem-se de música nostálgica, os meus olhos transbordam lágrimas e o meu coração aperta e aperta numa dor cruciante.
Tento encontrar a resposta, tento vislumbrar o caminho, tento sair do abismo para onde tudo se precipita, mas caiu, inevitavel para dentro da dor e do turbilhão de emoções refreadas durante demasiado tempo para serem agora contidas, de emoções confusas, desesperadas, desnorteadas. Tudo se precipita para o buraco negro à procura duma saída, dum escape, duma fuga de mim própria. À procura duma maneira de não sofrer, para não fugir... para evitar dizer adeus.
Mas o instinto primário de sobrevivência, o mesmo que nos leva a retirar a mão do fogo quando sentimos a pele a aquecer, a queimar, a estalar e a sangrar, leva-me igualmente a querer afastar-me da dor, a retirar levar a minha alma para longe, tal como retiro a mão do fogo para não me queimar.
Resisto.
Deixo a dor percorrer-me, queimar-me, consumir-me. Deixo a minha alma queimar-se, estalar-se e sangrar tal como a minha mão sangra em contacto com o fogo.
O fogo que me atrai e repele mutuamente.
O fogo que me absorve, que me consume, que me trona poderosa!
O fogo que me devora, que implora por mim, que se alimenta de mim e do qual eu retiro o calor para sobreviver ao mais rigoroso inverno, deitada sozinha num quarto escuro a pensar.
Quero que pare.
Quero fugir.
Mas não posso.
Por isso fico.
E lentamente vou sendo queimada e consumida pelo fogo do qual me alimento e devoro."

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