"Terra de Ninguém"...
Aproveitando mais uma noite de insónias resolvi começar a colocar o blog em dia. Sim é duro mas... não há nada a fazer...
No passado dia 9 de Fevereiro fui ver o filme "Terra de Ninguém" ao Cinema Passos Manuel, com a Sara e o João, colegas de trabalho.
"Terra de Ninguém" - "No Man's Land",um filme de Davis Tanovic retrata o conflito bélico que decorreu na Bósnia entre Bósnios e Sérvios no ano de 1993.
Este filme mostra da forma mais irónica e imprevisível possível o que esta guerra representou para dois povos irmãos.
Como refere Eduardo Valente (um dos críticos deste filme):
" A guerra da Bósnia, como qualquer outra guerra, é verdade, tem se mostrado tema inesgotável de filmes nas abordagens mais diferentes. O que os filmes mais interessantes sobre este conflito têm feito força para destacar sempre é a questão da guerra entre irmãos, do fato que o inimigo de hoje era o vizinho de ontem, o compadre, muitas vezes o melhor dos amigos. (...) Mas, sua grande sacada (a qual não faz nem um pouco despropositado o prêmio de melhor roteiro vencido em Cannes) é a de usar o microcosmo do microcosmo (uma trincheira, dois personagens), no meio da batalha, para falar do conflito como um todo."
Ao longo do filme senti vontade de rir como de "chorar".
O filme consegue mostrar de forma simples, a ironia e o dramatismo do conflito. No entanto, é, ao mesmo tempo, uma narrativa cheia de complexidade, que prende quem a vê à tela
Um filme um tanto "misterioso"no sentido em que nunca se sabe o que se vai passar a seguir uma vez que nos é transmitido "inconscientemente" diferentes cenários possíveis. Leva-nos a pensar que tudo irá correr bem, como de um momento para o outro tudo se trasforma...
Para mim foi um filme muito bem pensado e elaborado que consegue transmitir da forma mais simplista possível esta guerra - a guerra entre IRMÃO (Bósnios e Sérvios).
Em suma: "No Man's Land" tenta acima de tudo, fazer uma chamada de atenção para que este filme sirva de lição para um mundo que "infelizmente" vê o uso da força como primeiro recurso.
No entanto, apesar da lição tirada não é um filme que alterará o mundo actual e a maneira de pensar de quem manda e de quem acredita que com a força tudo se resolve... Infelismente!
Deixo aqui mais um pequeno excerto da crítica de Eduardo Valente a este fime para que possam "sentir" o filme e ver que o título que lhe deram - "No Man's Land" tem tudo a ver com a mensagem que é passada:
"De fato, o filme baseia seu impacto num encaminhamento narrativo que surpreende pela aparente simplicidade que esconde uma teia bastante complexa de observações que vão se somando e completando.
Logo no início temos a única cena de efetiva batalha que assistiremos. Ela é forte sem a necessidade de ser exploratória.
A partir daí temos rapidamente a situação básica: dois homens, dos lados contrários, presos numa trincheira. Lá, se reconhecerão como "ex-vizinhos", ferirão um ao outro, batalharão pelo controle do poder sobre o espaço. Um terceiro homem, numa situação peculiar que não vale contar, será o estopim de toda a trama. (...) . Quando não esperamos mais do que isso em termos de observação, o filme dá uma virada e ganha vida nova.
Entram em cena dois agentes importantes do conflito, raramente retratados nos filmes sobre o conflito com o grau de ambigüidade que vemos aqui: a ONU e a mídia jornalística. (...) O que o diretor-roteirista tem a inteligência de perceber é que nenhuma destas instituições representa nunca apenas um papel.
Assim, a mídia é no filme a instituição que força a tentativa de uma solução para o impasse, mas também é a que depois luta para que o impasse possa ser sugado até a última gota.
A ONU parece no início uma instituição covarde e aproveitadora, mas que depois tem sua posição contextualizada pela real dificuldade que representa uma tomada de posições.
Mas, o que realmente diferencia um olhar local, ainda mais com o humor sempre cáustico e absurdo como o tipicamente iugoslavo, é o final nem um pouco conciliador, feliz, tranquilizador, como poderíamos supor que seria num filme tipicamente "ocidental", onde mesmo que fosse mostrada a guerra como algo de difícil solução, o microcosmo criado encontraria uma saída a contendo. Aqui não. No final, nem mídia nem ONU sabem mais o que fazer, e a relação entre os dois lados não deu um passo na sua melhoria.
O oficial da ONU que representa os "melhores sentimentos" de tentativa de intervenção, tomada de posição, ajuda humanitária, é o personagem que termina o filme mais perdido.
De fato, o que pode ser a grande mensagem do filme, especialmente neste momento vivido entre israelenses e palestinos, é que os dois lados podem até reconhecer-se como irmãos, como vizinhos.
Mas, ao contrário do que insinuam alguns outros filmes, isso não é o suficiente para apagar atos e mais atos de violência e descaso que estão entranhados no imaginário de cada um.
Isto o filme nos diz muito claramente, e que a lição sirva neste momento: não é simplesmente pregando a ignorância da guerra e a necessidade do amor entre as pessoas que se vai encerrar um conflito de sangue como este.
Tanovic faz um belíssimo filme para nos mostrar isso."
Nota pessoal:
Quero apenas salientar que o terceiro homem, no qual Eduardo Valente não quiz falar, com muita pena minha, é a figura central de todo o filme.
Em traços muito gerais trata-se de um sodado de um dos lados que no início do filme é bombardeado (com a restante corporação) pela facção inimiga, onde só ele e um dos principais protagonistas sobrevivem.
Com o impacto do bombardeamento feito, o protagonista pensa que este, por não atender aos seus chamamentos, também morrera como os outros colegas.
Quando a facção inimiga, composta por apenas dois soldados, chega ao local do bombardeamento para averiguar a situação, ou seja, verificar o que restara do combate, apenas v personagem adormecido no chão e ao pensar também que estaria morto colocam uma bomba por baixo do seu corpo para que quando viessem resgatar os corpos a outra facção fosse atingida de forma a causar ainda mais perdas humanas.
Passam-se alguns minutos em que o soldado que estava sozinho e escondido é encontrado pelos dois soldados mandados fazer o reconhecimento do local. Há tiroteios e apenas um dos dois sobrevive. Na fileira ficam portanto, os dois homens de facções diferentes sem meios para sairem daquele lugar, onde enquanto o tempo passa vão mantendo conversar e discusões.
O colega, que se pensava estar morto acorda mas não se pode mexer uma vez que ao fazê-lo explode.
Assim, depois de uma certa "união" entre os inimigos, tenta-se fazer de tudo para que os ajudem e ajudem o soldado em cima da bomba. É aqui que surge a intervenção da ONU.
No entanto nada pode ser feito, pois não se consegue desarmar a bomba.
Durante este tempo, assite-se à morte do dois protagonistas que depois de tanto sofrem resolvem fazer justiça pelas próprias mãos, um contra o outro, provocando as suas mortes.
Ao verificar-se que a bomba não poderá ser desarmada a força maior da ONU, dá ordens para se deixar ficar ali o soldado ainda vivo e dizer aos media, mentindo, que está tudo sobre controlo e que a bomba foi desarmada. E assim acaba o filme, ali fica o soldado, sozinho a sentir todos a partir sem se poder mexer na verdadeira "Terra de Ninguém", sem que ninguém possa fazer nada, nem mesmo o membro da ONU, o primeiro a tomar partido da situação e a querer ajudar.
Vale a pena ver e sentir este fime...
Não o percam!
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